O mundo da publicidade digital acabou de dar uma guinada após o Tribunal de Apelação da Bélgica derrubar o Quadro de Transparência e Consentimento (TCF), considerando-o ilegal em toda a União Europeia. Essa decisão reforça o golpe de 2022 desferido pela Autoridade de Proteção de Dados da Bélgica, que alertou para a tecnologia central da publicidade online violando os direitos fundamentais consagrados no GDPR europeu.
No centro da disputa está o amplo uso do TCF, um sistema criado pela Interactive Advertising Bureau para padronizar a forma como os sites solicitam permissão dos usuários para o rastreamento. Ele sustenta quase 80% da publicidade na Internet, alimentando um ecossistema complexo onde os anunciantes se envolvem em lances em tempo real (RTB). Esse processo de leilão depende fortemente da coleta e troca de dados pessoais obtidos a partir do comportamento dos usuários online, frequentemente via cookies.
A ação de fiscalização belga remonta a reclamações coordenadas lideradas pelo defensor da privacidade Dr. Johnny Ryan e apoiadas por grupos como o Conselho Irlandês de Liberdades Civis e a Fundação Panoptykon. Eles argumentaram que o consentimento obtido através do TCF é fundamentalmente falho, constituindo pouco mais do que uma fachada que esconde violações generalizadas de dados. Ryan observou que gigantes da tecnologia como Google, Amazon, Microsoft e X exploraram as regras do GDPR, tornando-as mais uma formalidade do que uma proteção genuína para os indivíduos.
Essa decisão judicial confirma que o sistema de RTB, dependente do TCF, continuamente transmite perfis detalhados dos usuários da Internet sem salvaguardas adequadas ou transparência. Os dados são expostos a várias partes, tornando impossível garantir a segurança ou uso legal das informações pessoais. Essa brecha, afirma a decisão, viola os requisitos do GDPR para consentimento informado e específico.
A IAB Europe, que contestou a decisão original, recebeu com agrado a rejeição do tribunal às alegações de que compartilha responsabilidade como controladora de dados pelas informações pessoais tratadas pelos participantes do TCF. O grupo indicou esforços contínuos para revisar o quadro a fim de refletir um papel mais limitado e cumprir as exigências dos reguladores. Enquanto isso, grandes anunciantes que utilizam RTB foram contatados para comentar, embora o caminho a seguir para a indústria permaneça incerto.
Embora a decisão represente uma vitória significativa para os defensores da privacidade e para os usuários, ela também sinaliza a necessidade premente de evolução do setor de tecnologia publicitária. O julgamento do tribunal solicita inovação além do modelo atual dependente de rastreamento, sugerindo que o RTB deve se adaptar para operar sem dados pessoais. Essa mudança reformularia o cenário da publicidade digital, aproximando-o mais do espírito das leis de proteção de dados.
À medida que os reguladores em toda a Europa se preparam para supervisionar as reformas, os pop-ups de consentimento podem persistir por enquanto, mas a decisão marca um ponto de viragem. Ela destaca que a privacidade não pode ser um mero segundo plano na busca por receitas online, mas um direito fundamental que exige salvaguardas robustas e transparência genuína.